Saturday, September 30, 2006

Keio Plaza


Entro no lobby do hotel, num estado de zombismo total, e deparo-me com uma recepção de tamanho monumental (com 1450 quartos, imagino a hora de ponta no check-out matinal !) . De seguida dirigo-me a um recepcionista para perguntar se o meu quarto estava pronto. Tendo o meu irmão combinado comigo que faria o check-in, uma vez que o quarto estava em nome dele, e e estando ele lá há uma semana em viagem de trabalho nos arredores de Tokyo, eu tinha a ligeira impressão, como sempre temos quando chegamos a um país desconhecido a milhares de kms da nossa casa, que o mais provável era ele ter-se atrasado na viagem de Hachioji para Tokyo naquela manhã e que eu ficaria agarrado mais uma vez e ter de secar até ele aparecer.
"Hi, i´m Mr. Moreira and i believe my brother has already made the check-in this morning..." ao que o diligente japonês me disse: "Mr. Moleila, yes, you have a message". Espantado com a rapidez com que o japonês reconheceu o meu nome (não sei porquê mas das diversas vezes em que ouvi o meu nome nos altifalantes de um aeroporto noutro país, a chamarem-me pelas mais diversas razões, nunca conseguem acertar uma única vez na pronunciação correcta) fiquei deveramente supreendido com a missiva que continha a seguinte mensagem: "Puta, fui dar uma volta porque o quarto ainda não estava pronto. Já fiz o check-in. Sou mais que teu pai."Começo a rir sozinho em frente ao empregado do hotel.
Fico a aguardar num sofá da recepção com a minha mala à espera que o quarto ficasse pronto (a esta altura já pensava em me deitar no sofá...............mas poderia parecer mal ao pé daqueles japoneses, todos engravatados, ainda por cima num hotel de 4 estrelas com bom aspecto) até que chega uma japonesa que não media mais de um metro e meio e não devia ter mais de 18 anos para me perguntar se eu era o "Mr.Moleila" e que o meu quarto estava pronto. Pronto estava eu para dormir desde o momento em que o avião tinha entrado na Sibéria 8 horas atrás !!Não estava era pronto para que o bagageiro fosse uma miúda. Acho que eu fiquei mais envergonhado com a situação de ela ter de me carregar a mala do que ela pelo facto de ter de a carregar a um gaijin (tendo sido os portugueses os primeiros Europeus a chegar ao Japão, a palavra correcta para nós é "nanbanjin" ou "bárbaros do sul").
"Mr. Moleila, i will take your bag and show you your room now". Ao que eu disse: "OK" mas quando ela tenta pegar na minha mala, eu no meu sentido cavalheiresco pouco marxista, digo-lhe que não havia problema que eu podia levar a mala uma vez que esta tinha rodas e era pequena (não queria ter a imagem na minha cabeça de uma miúda ter de carregar a minha mala tipo explorador de trabalho infantil !). Nem mesmo no elevador deixei para trás esse sentimento, deixando-a passar primeiro mesmo após várias insistências dela para que fosse à frente como cliente que era.
Um dos momentos mais delicados para todos os viajantes é saber quanto dar de gorjeta ao bagageiro. Não era necessário neste caso porque culturalmente os japoneses não esperam receber uma gorjeta pelo seu trabalho (pelo menos era o que dizia no guia que eu consultei antes de ir !) e eu assim fiz despedindo-me com um cordial "Arigato" à minha anfitriã ao que ela correspondeu com uma vénia. E eu a única vénia que fiz foi à cama como sinal de agradecimento por poder finalmente....................dormir um pouco.

Shinjuku


Para quem tinha acabado de chegar pela primeira vez ao aeroporto de Narita, depois de mais de 16 horas em dois vôos, um dos quais com 12 horas de duração (e eu sem conseguir pregar olho), Tokyo foi um choque para todos os meus sentidos. Eram 9h da manhã mas o meu corpo só dizia: "Já são horas de deitar"... e ainda me faltavam 2 horas de autocarro no meio de trânsito caótico até chegar ao meu hotel no centro de Tokyo em Shinjuku.
Enquanto o sol irradiava no exterior, mesmo directamente sobre o vidro do meu assento no autocarro, eu tentava desperadamente, sem sucesso, não adormecer de forma a que pudesse ver este estranho mundo novo (sempre que viajo descubro que o caminho do aeroporto para o centro da cidade é sempre um dos melhores exemplos do pior que existe nas cidades......mas não foi o caso de Tokyo).
A cada cabeçada que dava no vidro, que me permita permanecer acordado por mais 2 minutos, deparava-me com uma infinitude de automóveis em que muitos deles tinham um lcd em frente do passageiro da frente (i.e. o pendura) que lhes permitia estar a ver televisão enquanto estavam parados no trânsito. E não eram só os carros mais luxuosos que os tinham ou eram em pequeno número. Até a Renault Kangoo dos gajos das utilities lá do sitio tinha um. E eu a pensar no jeitaço que me dava um desses no meu carro sempre que estivesse parado no trânsito a caminho do trabalho em Lisboa .
Depois de 2 horas entre este mundo e o outro, chego ao meu destino: a barraca do Keyo Plaza Hotel mesmo no centro do coração administrativo da capital do Japão (em frente ficava o edificio de escritórios mais alto do Japão: a Câmara Municipal de Tokyo onde trabalham 13000 pessoas).
E eu só pedia a todos os santos que o meu quarto estivesse pronto para poder dormir em algo melhor que um assento da classe económica da British Airways.